Um dia eu vou te encontrar e aquela ia ter sido a hora certa. Mas não vai ser tarde demais, vai ser só tarde. 
Vai ocupar todo vazio de todos os olhares, de todas as palavras. Do silêncio todo. 
Vai ocupar o tempo. 
Vai ocupar a cama, a mesa e o banho.

Um dia eu vou te encontrar na fila do banco, de terno e gravata, na fila do supermercado, e a gente - grande - vai rir de tudo. Eu com cara de louca, vou fingir que não ligo, e você, como sempre controlando a sensatez, fingiu que nem percebeu. A gente vai dizer que foi criancice e vai dizer que foi bom. Vai olhar o relógio e contar os minutos possíveis. Marcar a hora e lembrar de tudo como a gente lembrou ontem, refazendo tudo como a gente relembrou hoje.

Um dia eu vou te encontrar e começar tudo de novo.
Até não acabar mais uma vez.   

Oi amor,

   Mais uma vez eu te encontrei pela casa. Entre as minhas memórias encaixotadas e empoeiradas; entre aquelas fotos, aquelas camisas desgastadas, rabiscadas e tantas outras recordações, você apareceu claro e vivo.

   Depois de tantos anos eu ainda recordo como você era, cada linha sua. E mesmo depois de mudar, de crescer, você continua me surpreendendo como antigamente, reaparecendo e me dizendo que nunca vai me deixar... tarde demais. Ainda não aprendi a ler seus textos tão presentes sem sentir sua falta. Até hoje eles não perderam o sentido, mas eles não têm fim. Agora eu entendo, meu anjo, esse mundo não era para você, seu coração não poderia mesmo aguentar.

   "Oi amor, não me deixe, e por favor, não pense sobre isso sozinha".

   E pensar só, agora, é só o que eu posso fazer... lembrar de você.

   Você levou o que só você soube fazer: me matar de vergonha, de orgulho e me matar de saudade depois de nove anos longe... eu ainda daria tudo para te ver só mais uma vez. O meu mar... meu. Meu sorriso... tudo que era meu. Não quero essa dor, mas parece que é só o que fica, quero minhas memórias claras, mas não sei mantê-las eternas. E quantas vezes eu te procurei... quantas vezes eu lembrei de você... 


   E eu te encontrei, ou você me encontrou, não sei... mas foi tarde demais. Você não está mais aqui. Meu mar se fechou para sempre.  

   Agora eu não tenho mais você para ensinar, escutar, falar, amar e viver. Mas eu vou esperar o dia de te encontrar, esperar por você para me dizer o que fazer, meu anjo. 

   Saudades eternas... 

    Deixa eu te explicar como funciona. Pra mim, ela ultrapassa essa concepção de desilusão ou desengano; vai adiante, bem além. É mais que raiva, é mais que mágoa, é até mais que ela própria e ao mesmo tempo todos os sentimentos misturados. 

    Eu não me enganei, não criei uma projeção do que eu queria. Você me mostrou tudo que eu vi e me disse que eu poderia tocar, pegou na minha mão e me guiou dizendo que era real. Mas a tal realidade era outra, e eu descobri que só tinha uma impressão sobre você. Rápido como quem transforma água em vinho, você transformou o que era tão real pra mim, nesse personagem que hoje você é. Vivendo de vontades e roteiros cheios de falso romantismo. 


Mas não é essa, porém, a hipótese da causa...

    Quando eu descobri que esse personagem é o você real, descobri também que esse papel vinha sendo dramatizado pra mim há tempo. Não me ponho como vítima, só como mais um personagem. Me pergunto quantas vezes eu -inconscientemente- estive do outro lado, apenas acreditando. Deve ser mesmo mais do que eu posso entender. Ser hoje e não ser amanhã. Ter dois pensamentos, duas -ou mais- vontades, duas palavras... acho que isso se resume em vaidade, em egoísmo. 

    É mais do que eu quero entender.

    Eu não consigo ter raiva de você, nem de mim; não sinto tristeza, eu não lhe permito tanto. O que eu sinto por você é só decepção, aquela nossa velha conhecida. 

    
   Eu quero o gosto saudável. Quero você só às vezes e sempre que eu senti saudade. Não quero gastar a falta de você com quem não sinto a ausência; mas às vezes preciso, e até finjo bem...
    Queria acabar com esse aperto no peito que dá quando você sai de perto de mim. Queria também não me sentir tão vulnerável à esse ímã que conduz cada movimento meu de acordo com o seu.
   Queria não ficar te tocando sem motivo só para te sentir mais perto, me sentir tão pequenininha e perfeitamente grande para encaixar perfeitamente nos seus braços; fingir que não tem nada diferente entre a gente era tudo que eu não queria.
    De tudo que eu quero e não quero, eu sei... eu quero você. Quero que isso não acabe, quero me desgastar, arrancar meus cabelos e encenar que não ligo para as outras. Quero te pedir desculpas, te pedir para sumir e logo depois implorar para ficar. Quero tudo que eu tenho direito: noites acordadas, dias sonolentos... desses eu quero mais noites. Ah! Também quero tardes de domingo sem graça.
   Quero tudo que venha com você. Aceito o pacote completo... todas as Marias, Fernandas... fulanas... quero tudo. Quero sentir ciúme, quero mágoa, quero sentir medo de te perder e medo de me perder em você. 
     Quero seus abraços, mas os quero só meus. Não quero demonstrações públicas nem palavras bonitas; quero gestos. Quero ouvir meu travesseiro sussurrar toda noite o seu nome e acordar ainda sonhando... e viver sonhando, eu quero.
     Quero tudo que seja você. 



  Como é que as coisas mudam e a gente não percebe? Um dia a gente fala - no outro também, e no outro... -, a gente brinca e não pensa no que o outro vai achar, se vai "bolar", se vai ficar ou se vai embora... A gente nem pensa no que pode acontecer depois. Ou pensa... mas ainda é cedo demais pra se preocupar. Deixa descer morro abaixo.

   Depois de um certo tempo, quando parecia que o certo seria tudo se tornar mais simples, mais natural. Não. Se torna cada vez mais difícil conversar, tudo deve ser milimetricamente falado, nada pode sair do controle; uma linha tênue, mas muito segura de si. Sem cobrança, sem apelo... tudo ainda é bricadeira, mas agora tem um subtom de verdade. Antes tudo poderia ser dito sem que existesse medo nem retrocesso. Agora não.

   A ausência incomoda, a presença faz medo à rotina... a rotina assusta a simplicidade... mas isso era beeem antes. A rotina. Ela já veio de muito tempo atrás e ninguém percebeu, e se percebeu não se importou. Deixou levar.

   E quando tudo muda, cada dia meio cheio se torna meio vazio. Falta toda aquela cordialidade, os assuntos sem assunto. Parece até piada. Mas é da ausência que nasce e cresce. Do vazio que por necessidade se fantasia o outro, transformando-o em um exemplar perfeito de você mesmo e do que você deseja que o outro seja. 

  "A ausência é a melhor presença". Dá cuirosidade a imaginação.

   Vontade de falar "Se for pra ser como sempre é, por que não ser feliz agora?"

   Depois eu vou dizer mais uma vez: "Eu te avisei. Tarde demais".
   Cansando disso.
"I don't care if it hurts

I want you to notice
When I'm not around
You're so fucking special

What the hell am I doing here?"*
A gente só percebe o que é importante quando a gente já não é mais importante pra o que a gente percebeu.


    
Existe uma linha, uma corda bamba, entre o gostar e o deixar.


 Cabe a cada um pesar para o lado certo ou tentar se equilibrar, rezando para que um vento mais forte não o derrube inesperadamente e que a poeirinha trazida pelo vento não o faça cegar...


"Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso."*

Recomeçando...



Nota: Como cada fase vem pra trazer coisas novas e experiências diferentes, a primeira vai ser essa: Agora é tudo em primeira pessoa. Adorava meus continhos onde eu podia me esconder por trás de personagens pra que ninguém entendesse o que se passava nos meus casos exagerados, mas agora eu ando prezando pelo lado simples das coisas.  

Lúdico. É a única palavra que descreve o que eu sinto. Como se alguém me mostrasse o vento e dissesse: "Pegue e poderá levá-lo com você". E eu tentasse arduamente, dia após dia, segurar nem que fosse uma poeirinha que ele carregasse quando passasse por mim, só pra quando tudo acabar de novo eu ter  - mais - uma prova que  tentasse me convencer que aquilo existiu. Por mais que passe e eu sinta, por mais que o vento toque e até assobie no meu ouvido o que eu esperei pra escutar, ainda assim eu não acredito. Eu nem posso vê-lo, meus olhos se viciaram em só imaginar.

É o recomeço já que não dá pra continuar com o que nunca existiu. Eu vou sofrer? Claro. E eu quero que seja assim... do que adianta sentimento se não for intenso? Quantas vezes forem necessárias eu vou me jogar de cabeça no poço escuro, e é provável que fique por um tempo lá no fundo, observando o conhecido escuro que faz minha imaginação aguçar... esperando algo que me faça emergir de novo e assim recomeçar...




 
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