Diagnose


"Você sofre de um quadro crítico de Esclerose Múltipla". Dizia o médico enquanto olhava o prognóstico...


"O paciente encontra-se em estado avançado de cegueira em diversos aspectos". O pós-escrito da receita do médico anterior se dirigia ao próximo doutor que examinasse aquele paciente, de repente bastante apreensivo.

Horas antes haviam começado a consulta e logo o doutor percebeu os sintomas: falta de visão e problemas de coordenação motora, o que só que confirmava o quadro de EM; porém não encontrava explicação para os suores, a insônia e a taquicardia.

A inconstância, a aflição. O paciente lhe falava de coisas que de repente mudavam de significado... uma hora era feliz, outrora era só raiva... oscilava entre a dúvida e a certeza, entre o querer e a repulsa. Aquilo ali não fazia sentido.

Diagnosticou a doença lhe entregando uma nova receita e mais um pós-escrito dirigido ao próximo médico.

"O paciente sofre de Esclerose Múltipa e em alguns momentos nota-se um quadro de distimia".

Antes o sonho...

Acordando quando tudo estava escuro.

-Que horas são? 18:30!

Despertara com a sensação de que não eram apenas as horas que estavam erradas... Aquela conhecida mudança de humor repentina, e até então sem explicação, lhe pegara de surpresa enquanto andava pela casa tateando as paredes, procurando um interruptor que acendesse as luses também atrasadas.

Forçava sua falha memória a lembrar de algum detalhe do que podia ter-lhe deixado tão impaciente, algo havia acontecido... ou não havia.

- Ahhr!

Uma arfada de ar e tudo o que aconteceu veio rápido demais. De repente estava tonta e enjoada. Por alguns segundos o seu mundo parou para assistir o que havia acontecido enquanto dormia: O estranho de sempre havia voltando para mais uma de sua visitas noturnas...

Ela conseguia sentir como tudo aconteceu, via como se estivesse em tempo real... a lembrança de cada toque ainda lhe causava arrepios, o cheiro da pele ainda era aquele do qual lembrava, que lhe fazia respirar mais fundo como se pudesse guarda-lo dentro de si. Podia sentir os cabelos entre seus dedos, a pressão contra seu corpo. Podia sentir que ele estava ali de novo e por completo.

Algo lhe puxava para mais perto... gentil e ao mesmo tempo impaciente; apressado, mas não mudando o tempo entre cada um de seus movimentos, ainda lentos e seguros regidos pelas batidas fortes dos corações sincronizados. Algo havia mudado naqueles olhos, agora eles não tinham mais promessas, neles agora havia apenas o agora. Cada toque delicado da boca dele por seu corpo lhe lembrava de algo mais real, finalmente alguma coisa realmente dele.
Aos poucos... cada segundo que passava trazia consigo o que realmente havia acontecido... o sonho era real demais, bom demais para ser tão verdadeiro. Tudo agora parecia ter sido visto de uma janela, onde estranhos perfeitos se olhavam como se não restasse mais nada. Os toques antes sentidos agora lhe causavam repulsa, eram tão fora da realidade quanto tudo que andou acontecendo nos últimos tempos.

Sonho...

Apenas mais um capítulo do roteiro cheio de clichês...


"A paixão dos suicidas que se matam sem explicação." M. Bandeira

1º de Abril

Não existe arrependimento, tudo ainda está tão bem quanto era no começo, caminhando exatamente como foi planejado. Não existiram mentiras, nem há desconforto, nunca houve um jogo de palavras bem ditas. Não existiram inúmeras tentativas muito bem aceitas pelo próximo, logo... jamais existiu reciprocidade.

Não existiram meias palavras.

O que se passa ao redor não tem mais relevância... pois o que existe entre eles é bem maior. Os estranhos não influenciam a convivência diária, tudo é baseado na confiança e na cumplicidade.

Jamais existiram pendências... Não existe fim.

Que dia é hoje mesmo?
 
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